quinta-feira, 13 de setembro de 2012

É vertiginosa a teia de lamentações costurada na tua boca ressecada pela falta de outros lábios embebidos de batom. Alma emporcalhada, estrelas marrons descidas a conta-gotas por quem tem apenas a escuridão da noite e promete o céu. Tu não tens voz cândida para que dela saia mais que moscas e ratos alados. Tu tens garganta agourenta como corvos e abutres, pois carniceira é a tua fome de veludo e sede de perfume doce. Olhos embasbacados que não dançam, promessas falhas que nunca se cumprem e a realidade é composta apenas por nós. Nós que incluem nós vazios, que incluem a mim que valho pela vida e pela morte do amor mundano que nutre-me como qualquer vitamina artificial. Eu que valho por dois de nós, que escrevo o esquecimento, a verdade, o azedume da sua alma e aponto o lápis saindo raspas de você. A balança do meu coração está desfavorável e a saudade aproveita passagem para buscar lembranças em seu rosto magro, pálido e elegante. Escuto o coro dos anjos que povoavam meus sonhos ao longe, numa imensidão distante chegando quase a nunca ter existido, aplaudo como terceira pessoa a moça virgem de mil pernoites em outros corpos, que ama sem saber amar, que apaixona-se tecendo o manto da dor. Não há honra em querer a ti, pois comecei a loucura com pontos finais e fiz tudo às avessas. Entreguei-me a um cadáver de peito pulsante, um assassino de cruz fincada na mão. Distraí-me com teus beijos que já começaram sufocantes enquanto você sugava parte a parte do meu corpo. Pegara as pernas para que eu jamais fugisse, os braços para que algemas não fossem necessárias. Tocara-me pela primeira vez o estômago e fiz do amor doentio o pão nosso, meu e teu de cada dia. Espero impaciente para que morras de uma vez por contra própria, pois leão sabe a hora de tornar-se caça em frente a um cano metálico. Que das armas saia tão somente o meu perdão, e que eu te absolva da sentença de ser meu único quase amante. Espero impaciente para que tuas lágrimas um dia parem de brilhar na nostalgia de uma cabeça transtornada pelo silêncio da ausência. Que voltes, que traga consigo o agouro dos corvos novamente, que surjas do inferno sem coro, mas que seja pela última vez. Amole de novo o punhal encravado nos teus dentes e feche os olhos para que eu não respingue vermelho em tão secos diamantes. Eu preciso ser morta novamente, eu preciso enforcar-me com o que vier das tuas mãos apodrecidas, pois sofrer por um fantasma é mais do que um simples exorcismo de palavras pode resolver.

Kássia' 

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